A viagem de mil léguas não começa com o primeiro passo: ninguém
mais faz uma viagem dessas a pé!...
Já a viagem de mil milhas aéreas começa horas antes da chegada
do viajante ao aeroporto. É necessário sair de casa cada vez mais cedo... Nunca
se sabe o tempo necessário para a ida de casa ao aeroporto, e haja trânsito!...
Os trâmites, apesar de toda a informática disponível, parecem cada vez mais
burocratizados, se é que realmente não são... Seja como for, quem viaja sempre pensa
assim. Um dia, para todos os efeitos legais, apenas se dirigir ao ponto de
partida de uma viagem já será considerado uma viagem...
O voo estava marcado para as 12h05m, saindo do Tom Jobim, o
(ainda) aeroporto do Galeão, e o encontro de toda a trupe no check-in ficou combinado para as nove
horas da manhã, três horas antes do voo, toda precaução... E não é que teve quem saísse
de casa às 6h da matina?...Talvez o pior de precisar chegar cedo a algum lugar é
calcular mal e depois ter de fazer hora. Dono de lojinha de aeroporto vive
disso... Parece escolher a dedo tudo que não interessa ao viajante, que mesmo
assim comprará, e apenas por estar agoniado. Pior mesmo é parar para comer naquelas
lanchonetes massificadas, com preços cartelizados. Tira a fome de qualquer um, é
a fissura que garante a clientela...
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Raíssa, sol rascante |
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Egberto, luz enredada |
Vir do Lins de Vasconcelos, a esta hora da manhã e usando
transporte público, seria sempre mais difícil... Por princípio, Leonil fez o de
sempre: caminhou até a estação do Méier e pegou o trem para a Central. De lá, e
este era o plano, pegaria o ônibus da linha que interliga os dois aeroportos do
Rio. Cuidadoso, saiu de casa bem cedo, às 6h, e sua velha irmã ainda nem se
levantara. Até a Central, tudo bem: antecipando-se às massas trabalhadoras seu
paletó de lã, presente de um sobrinho exagerado, garantia de
elegância, passou
incólume. Pegar o ônibus é que não foi nada fácil... Ninguém sabia (e ele não
antecipou o problema) em qual ponto o Santos Dumont-Galeão parava, e nem quando
passaria. Muito objetivo, não se apertou e pegou qualquer um até a Rodoviária.
Lá, sabidamente, o ônibus passava. E parava. Funcionou: atraso de apenas 35
minutos.
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Leonil, olhar rapineiro |
Quem também não teve problemas no percurso foi Gastão, que
veio de Ipanema, no contrafluxo, pela Linha Vermelha. O que lhe custou tempo, e
demais, foi pegar o táxi... Sair de seu charmoso apartamento térreo de fundo de
vila, apesar da grande mala que carregava, foi fácil. Já alcançar a esquina da
rua... Complicou. A chateação da obra do metrô na Barão da Torre, nesta manhã, depois
que o tatuzão encalhara no subsolo, na
passagem da rocha para a areia, chegou
ao cúmulo de interromper a passagem de pedestres por dezenas de minutos, até o
reposicionamento dos tapumes. Conseguir táxi também foi infernal, e se tratava
de uma mera quarta-feira...
Conseguiu um, aos empurrões, disputando com um
grupo de gringos que, naturalmente, pretendiam subir ao Corcovado antes de
todos os outros, passeio obrigatório para quem vinha assistir os jogos da Copa
do Mundo. Afinal, conseguiu chegar ao aeroporto às 10h02m, ainda na faixa de tolerância
combinada.
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Elói, natureza divinal |
Por último, pouco antes de Egberto desesperar-se, aparece, às
10h23m, o esbaforido Rolé. Na véspera, tentando ser previdente (o que,
decididamente, não era do seu feitio), deixou a sua sossegada casa no meio do
mato alto da estrada do Mato Alto, em Guaratiba, e foi dormir no apartamentode um
amigo no Novo Leblon, na Barra da Tijuca. Seu plano era perfeito: pegar no
ponto final, no terminal Alvorada, o recém-inaugurado BRT Transcarioca para
rapidamente atravessar a cidade até o Galeão. Bem cedo, porque estava preocupado
com manifestações, que até apoiava, mas podiam
atrapalhar...
Naquele dia, pelo
menos duas lhe pareciam possíveis. Uma a dos moradores da Vila Autódromo, em mais
um protesto contra as remoções, forçadamente consentidas, que a prefeitura vinha
fazendo na comunidade, e apenas por serem vizinhos da futura Vila Olímpica dos
Jogos de 2016, além de pobres. Outra a dos professores em greve, que, ele deduziu,
podiam protestar, por exemplo, em cima do viaduto de Madureira, e até mesmo fazer
uma assembleia. Fora estas normalidades, sabia que corria outros riscos sérios,
estava ligado...
Imaginou o confortável ônibus articulado sendo invadido por
drogados em crack, desentocados de seus refúgios sob a ponte da Ilha por alguma
tentativa de captura preventiva da Assistência Social. E até mesmo, a nova
ponte de arcos do BRT sobre a Av. Brasil, a exclusiva, na altura da favela da
Maré, atulhada de drogados atingidos pelo gás lacrimogêneo, que a PM, com
certeza, distribuiria fartamente, para livrar a pista de tal incômodo, que o
trânsito tem que fluir sobre todas as coisas... E, extrapolando os fatores
humanos (talvez impressionado com as últimas notícias sobre um futuro caos
climático), o preocupado Rolé chegou a imaginar a ocorrência de um inesperado temporal
que submergisse todas as vias naquela bela manhã junina...
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Eliete, núcleo sensível |
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Gastão, figura destacada |
Sucedeu que o caminho não foi nada convulsionado, mesmo
considerando os sustos de quase atropelamento de pedestres desacostumados com a
faixa exclusiva dos ônibus, e Rolé chegou bem cedo ao aeroporto. Aliás, cedo
demais!... Precisava tomar um café... Achando caros os preços da mal cheirosa praça
de alimentação e com gordura demais no ar, saiu do aeroporto e andou quase um
quilômetro, com mala e tudo, até um posto de gasolina. Isto e mais as relaxadas
conversas com frentistas, taxistas e carregadores, fez com que praticamente perdesse
a hora. Ou nem tanto: chegou tarde, mas chegou!...
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Rolé, imagem enganosa |
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PaCuCoBras [grupo fechado] – Comentários:

Berto Triz Tonho Olha, eu acho justo. Valeu ou não valeu?... Eu acho que sim. E se há quem conte, passemos ou não à condição de personagem, sempre poderá ser útil às novas gerações, que também não faço fé que as atuais tirarão disso algum proveito, que elas não se dão a estes aprendizados, cuidam apenas dos seus luxos...
Elói de Holanda Aleluia, irmãos!... Quem viveu, reviverá!... E quem não viveu, verá!... Quem quiser aprender, que aprenda, e isto vale para alguns de nós também... E, de qualquer modo, mal não fará: falta de reflexão é o que mais tem feito falta, por aqui e alhures. Que assim seja, com a graça de Deus e dos Orixás!... Amém! Saravá!
Eliete Barbosa Quê que é isso, Elói?... Na viagem mesmo vc estava todo sorumbático, agora é este entusiasmo todo?... A gente tem que tomar cuidado com estas coisas, ditas/escritas assim em público... Hoje à noite a gente conversa, explico melhor meu ponto de vista. Apesar de que, agora já era, não?...
Leonil de Moura É o seguinte: tudo é História. E se é História, merece registro. Tem as suas confusões e tal, uns e outros (e eu mesmo) podem(os) sentir uns desconfortos, certas lembranças etc... Mas, tudo bem, vamos nessa!... Eu também tô curioso pra saber o que vão escrever.
Russa Pimentel A questão é séria. Está bem, não tenho direito de proibir, nem ninguém. Preservo, porém, meus direitos, de imagem e de opinião. É bom que quem escreva tenha muita consciência do que faz. E saiba muito bem dos riscos que provoca. E que corre...

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